César Soto

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César Soto

Enquanto assistia Whale Wars num desses canais de bichos ou História ou coisa que o valha, César Soto decidiu que era hora de levantar as mangas e tomar parte no conflito entre ambientalistas e baleeiros. Assim, arrumou as malas, juntou suas escassas economias e passou a integrar a tripulação da pequena embarcação Sea Shepherd. Em duas semanas, honrou suas raízes e sabotou o motor do barco e envenenou a comida, se juntando assim aos japoneses. Malditos homens brancos e suas interferências em tradições milenares

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Segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A não morte de Joaquim Domingo – Parte 3

Primeira parte.
Segunda parte.

Deparou-se com Joaquim Domingo de apenas 10 anos, assistindo a um filme de James Bond no colo do pai, no sofá da sala. A primeira reação foi a de vergonha, naquela idade ainda não dispensando o colo paterno. Logo se lembrou, no entanto, que a situação era tão rara que jamais poderia negar o aquele ninho. Sua mãe havia saído de casa antes que ele pudesse formar uma memória de seu rosto, apenas uma sombra esfumaçada que o acordava vez ou outra durante a noite. Nunca soubera exatamente as circunstâncias do abandono que, quaisquer que fossem, jamais justificariam dois meninos crescendo sem a figura materna.

Viveram então os três sozinhos. Seu pai dando um jeito para sustentar como podia os dois filhos pequenos. Joaquim nunca ouviu uma palavra de raiva do pai em relação a sua mãe, mas podia ouvir um choro calado vindo de seu quarto às vezes pelas madrugadas, quando ia cuidar do jovem Rafael com seus acessos de tosse. A situação nunca foi das mais confortáveis na casa dos Domingo. Para manter o padrão de vida, seu pai quase nunca estava em casa e assim Joaquim assumiu a responsabilidade direta pela criação do mais novo. Contudo, seu pai ainda era o homem que mais admirava em todo o universo e, apesar das dúvidas, respeitava todo o esforço perpetrado e todas as horas de sono não mantidas.

Naquele momento, Rafael entrava na sala com seu macacão poído, reclamando de pernilongos. O jovem Joaquim pôde sentir os ânimos de seu pai se exaltando, como geralmente acontecia, e tratou logo de pular entre os dois e encaminhar o irmão para o quarto, prometendo levar o repelente assim que o outro se deitasse. Seu pai se acalmava na sala e voltava a assistir o filme e, enquanto isso, os dois meninos se aninhavam juntos na cama. Naquele momento, Joaquim se perguntava por que ele tinha de cuidar de Rafa, mas não havia ninguém para cuidar de si.

O relacionamento do primogênito com seu pai fora marcado por constantes conflitos. Apesar de todo o respeito, em muitas ocasiões Joaquim não concordava com a atitude de seu criador em relação ao mais novo. Assim, todas as frustrações de João, o pai, recaíam sobre a criança, o que durou até que este estivesse grande o suficiente para descontar suas próprias frustrações de volta. A primeira vez em que Joaquim se defendeu do pai foi também a última vez em que se falaram. Pelo menos até uma ligação feita entre os dois anos mais tarde, quando moravam a centenas de quilômetros de distância. Ele tinha, então, 17 anos.

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