Depois de sofrerem hostilidades e intimidações dos colegas brasileiros em seus primeiros dias no país, os médicos enviados por Cuba já começam a mostrar familiaridade com o sistema de saúde pública tupiniquim. O Laranjas apurou que ao menos três profissionais caribenhos já faltaram ao primeiro dia de trabalho em hospitais públicos e estão dando expediente em clínicas particulares. O número pode ser ainda maior, mas ainda não tivemos tempo de fazer uma média ponderada entre as denúncias da Veja, Folha, Globo e Estadão e os elogios do Brasil 247, da Carta Capital e do Emir Sader.
“Hablaram para nosotros que era normal, que todos doctores brasileños hacem iso, la populación y el consello de medicina no hacen nada”, disse Pablo Partagas, que cobrou 200 reais por uma hora de entrevista particular. O médico se defende dizendo bate o ponto e fica de sobreaviso para o Hospital Marcos André Batista dos Santos, em Nazaré das Farinhas (BA), enquanto receita cremes dermatológicos na Clínica Vampeta para Mulheres, na mesma cidade.
Outro caso confirmado pela reportagem é do Carlos Montecristo, que atrasou nossa consulta em uma hora e meia, apesar da secretária ter dito que “o doutor vai demorar só quinze minutinhos”. Ele foi contratado para a Unidade de Pronto Atendimento de Jaciara (MT), mas é figura carimbada em uma clínica de cirurgiões plásticos da cidade. “Com el soldo de escravo que estamos ganando, tenemos que hacer uns bicos, vale?”, explicou-se, enquanto media a circunferência abdominal do repórter.
Por fim, a reportagem do Laranjas tentou contato com Paco Hiba, mas a recepcionista do Posto de Saúde de Braço do Trombudo (SC) informou que ele está de férias em Miami. Após ouvir que a entrevista não seria feita por convênio, ela marcou um horário para o dia seguinte em uma clínica estética de Jurerê Internacional. “Se chegar mais cedo temos charutos e rum de boa qualidade para o senhor”, disse, dando boas risadas sobre uma piada sobre a Unimed feita pelo repórter.
Intercâmbio – Com a inevitável chegada de cada vez mais colegas estrangeiros, os médicos brasileiros aos poucos também se acostumam com sua presença. O cirurgião plástico Armindo Botoques, de Não-Me-Toque (RS), afirma que já se aproximou dos companheiros cubanos recém chegados. “Já que não tem jeito e eles estão vindo mesmo, fui perguntar se ninguém tinha o telefone de algum médico que está para embarcar. Quero encomendar umas caixas de Habanos”, disse.