O jornalismo brasileiro atingiu um novo patamar de qualidade durante o fim de semana, dando fôlego àqueles que ainda acreditam em sua sobrevida. A responsável pela evolução é a comerciante Nice Fragista, de 52 anos, moradora da cidade de Cornélio Procópio, no interior do Paraná. Tudo aconteceu na manhã de sábado, por volta das 11h30, quando, preparando-se para fechar sua loja de modas, ela ouviu barulho de tiros e percebeu um corre-corre nas proximidades da igreja matriz.
“Meu primeiro instinto foi me esconder, já que a gente não tá acostumado com essas coisas aqui na cidade, né?”, disse Dona Nice, que é uma figura muito querida em Cornélio Procópio. Em seguida, porém, os tiros pararam e ela decidiu ver melhor o que estava acontecendo. Foi neste momento que o jornalismo brasileiro ressurgiu. “Eu liguei o celular para gravar, queria mostrar para minhas filhas. Alguns segundos depois, o bandido tentou atravessar a rua, e eu continuei filmando”, contou, empolgada.
Dona Nice não tinha noção do perigo que estava correndo: armado, o marginal que havia acabado de assaltar uma loja de departamentos a poucos metros dali, viu que estava sendo filmado. Essa pequena distração, no entanto, precipitou a tragédia que viria a seguir. “O ônibus veio com tudo e juntou ele, foi pedaço de braço e perna pra tudo que é lado”, relatou a comerciante, fazendo o sinal da cruz. Toda a sequência foi registrada no celular de Dona Nice, de forma inovadora: na horizontal.
Depois de tomar um copo de água e se acalmar, a senhora paranaense enviou o vídeo para o grupo da família. Desse pequeno ato, Nice Fragista foi para a história. Poucos minutos depois, sites de notícias de todo o Brasil experimentavam um fluxo de visitantes inédito, com usuários maravilhados com o nível de jornalismo apresentado. “Eu sempre entro aqui para reclamar e xingar os políticos e quem pensa diferente de mim, mas hoje queria parabenizar o UOL pela qualidade do conteúdo”, disse o comentarista Adaílton França.
Nos telejornais da noite de sábado, a audiência também apresentou números significativos. De acordo com o professor de jornalismo e crítico de mídia Ernesto Noam, o vídeo da Dona Nice representa um “sopro de vida na pauta viciada da grande mídia”. Para ele, o formato engessado da produção pode ganhar novos rumos. “Claro que os interesses do capital continuarão mandando, mas o povo agora poderá se ver com maior amplitude, sem barras laterais que ressignificam o tolhimento da informação”, explicou.
Até a tarde desta segunda-feira, cerca de 63% dos vídeos apresentados em portais brasileiros já estão na horizontal, mostrando que a revolução veio para ficar. Em compensação, já foram anunciadas as demissões de 84 cinegrafistas e repórteres de rua em diversas redações televisivas do país.
(Pauta sugerida pelo tio @cvalente)
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