O primeiro índio a dar entrevista para a TV antes de votar saiu na última quarta-feira, dia 1º, da aldeia Arapuá Taba (Casa da Abelha, em Tupi), no interior do Acre. A família de Japuanã, cerca de 15 guarani, embarcou na canoa com mantimentos suficientes para aguentar a longa viagem de três dias pelo Rio Juruá até a urna eletrônica mais próxima, na cidade de Ondi (Judas perdeus as bota).
“Importante exercer cidadania, independente da raça, etnia, credo ou tempo médio da bateria do smartphone”, disse o patriarca, ensaiando a entrevista do domingo. “O repórter muda toda eleição, mas eu estou sempre lá pra votá, dando o exemplo”, disse orgulhoso, antes de empurrar com uma taquara a singela embarcação em direção à correnteza.
Do outro lado do Brasil, mais precisamente em Piracicaba, no interior Paulista, Serafim Vilela, de 105 anos, não parava de resmungar. “Eu vou porque tem que tirar essa gentalha que está lá em Brasília, mas é uma aporrinhação ter que aguentar repórter”, disse o mais velho eleitor da cidade e, talvez, do Brasil.
Outro que vai tentar driblar as equipes de TV é o cadeirante Edmilson Rodela. “Nas vezes que não dei entrevista, apareci nas imagens da reportagem na parte da acessibilidade, sabe? Tipo quando dizem ‘O exercício da democracia também foi da acessibilidade'”, reproduziu.
As reclamações por todo canto do país tem mobilizado a União Democrática dos Extremos, Esquisitos e Elementos Inusitados (UDE³I) para uma ação de protesto no domingo. “A orientação é falar CU no final de cada frase nas entrevistas ao vivo e boicotar as demais criticando a maquiagem e o cabelo dos profissionais de imprensa”, informou o presidente Ulisses Batista, candidato a vereador nas últimas eleições pela cidade de Pirajuí, que recebeu apenas um voto.