O jovem atacante Yousuff Al-Ahmed teve uma ascensão meteórica na segunda divisão do Iranianão de 1977. Ele começou a temporada como uma das promessas vinda das categorias de base do Sultões de Teerã Esporte Clube e terminou como o maior goleador do país: foram 42 gols em 20 partidas, que levaram o tricolor de volta à elite do futebol persa.
Sempre humilde e irreverente, uma de suas principais características era comemorar os gols com uma oração a Alá, sempre ajoelhado em direção a Meca. Muito religioso, Yousuff era frequentador assíduo das mesquitas carismáticas, que cresciam em influência naquele país, e sempre procurava levar a palavra do senhor dentro e fora de campo. Não demorou muito para a imprensa esportiva rotulá-lo como o primeiro atleta de Maomé do Irã.
A convocação para disputar a Copa do Mundo de 1978, na Argentina, não foi surpresa pra ninguém. Com um time mediano, mas uma zaga de pouca qualidade, a esperança do técnico Salim Firraz era de forçar as defesas adversárias e confiar no talento de Yousuff.
Em um grupo que não foi considerado difícil, a Seleção Iraniana, e principalmente o craque Yousuff não despontaram. Nos três primeiros jogos, o time marcou apenas dois gols. No primeiro, sofreu uma goleada de 3 a 0 da Holanda. No segundo, empate em 1 a 1 contra a Escócia, gol de um zagueiro que subiu num escanteio e deu de cabeça. Yousuff só marcaria no terceiro confronto da primeira fase, contra o Peru: o gol foi bonito, uma jogada individual partindo do meio campo. Mas a partida terminou em 4 a 1 para o adversário e o Irã teve que voltar para casa mais cedo.
Apesar do fracasso, Youssuff já tinha propostas para atuar nos principais times da elite iraniana na temporada seguinte. A tristeza seria passageira, ele mostraria seu verdadeiro futebol no ano seguinte e o povo esqueceria o trauma da Argentina.
O ano de 1979 chegou, e com ele a Revolução que depôs o xá para instaurar uma república teocrática sob comando do aiatolá Khomeini. Liberdades políticas, civis e religosas foram restringidas em nome do fundamentalismo. Antes do fim do ano, Yousuff Al-Ahmed seria fuzilado, tanto por causa de seu viés religioso quanto pela amarelada no ano anterior, que não agradaram em nada o novo regime.