Na casa do aposentado Carlos Alberto Steinglaber, 58, tudo estava em clima de Copa do Mundo neste último sábado (28). Bandeirinhas, cornetas, cachorro com a camisa 9 da seleção brasileira, petiscos, cunhados reclamando da comida e churrasco. Todos da família estavam preparados para fazer o que ninguém, nem o mais black block dos torcedores, ousaria na hora do jogo do Brasil: desligar a TV.
Os momentos antes da partida eliminatória entre Brasil e Chile na casa dos Steinglaber foram de tensão semelhante à do vestiário da seleção brasileira. Foi difícil resistir à tentação. A recomendação era clara: nada de pré-jogo, jogo, nem pós-jogo. “Sentamos todos no sofá e tiramos a TV da tomada. Sem dó. Carlinhos não pode mais ver os jogos da Copa do Mundo”, disse Geruza Steinglaber, 55 anos, dona de casa e mulher de Carlos.
A proibição partiu do cardiologista da família, o dr. Dauro Stranglove, que recomendou que a família não assistisse aos jogos do Brasil durante as fases do mata-mata. “Se com a mordida do Suarez ele já sentiu uma dor no peito, imagina o que aconteceria com aquela bola na trave do Chile durante a prorrogação?”, disse o renomado médico. “Daqui por diante, só jogos da Costa Rica para o Carlos.”
O paciente Carlos sofre em dobro. Alheio ao que acontece no gramado, pelo bem de sua saúde, o humor do aposentado mudou desde a última consulta. Para pior. “Ele cortou a mesada”, reclamou o filho Carlinhos. “Ele não tolera mais minhas piadas”, declarou o cunhado Almir. “Ele não dá mais conta do recado”, lamentou dona Geruza.
A família já começa a planejar a próxima partida do Brasil, na próxima sexta-feira (4), contra a embalada Colômbia pelas quartas de final. Nada de churrasco, pipoca salgada e cunhado. A ideia é apelar para a videolocadora mais próxima (gêneros drama e comédia); “Vou providenciar, até a final, ter instalado um isolamento acústico no quarto, para não ouvirmos os gritos dos vizinhos. Deixa comigo!”, se prontificou Almir.
Aos poucos, a família está se acostumando com a nova regra. “Meus filhos disseram que esta escolha era pior que comer brócolis, mas eles agora entendem que não há pressão arterial que aguente aos jogos da Copa do Mundo no Brasil”, disse Carlos, vibrando em cada lance do jogador costarriquenho Bolaños. Para ele, no mata-mata, o que importa é sobreviver.