Djones Pedroso entrou ingenuamente no supermercado Comper pela primeira e única vez no dia 10 de março de 1973. Na época, informado sobre um novo sistema que agilizava o atendimento, chamado caixa-rápido, resolveu esperar com a sorte de chegar em casa para o almoço. Hoje pela manhã, 41 anos depois, o estudante de Ciências Sociais da UFSC estava prestes a pagar a conta e levar seu pote de manteiga Aviador, uma garrafa de Crush e dois maços de Continental quando, de repente, foi surpreendido por uma retroescavadeira.
“Tivemos uma grande história de amizade”, relembra Carlos Góes, morador sexagenário que estava à frente e conseguiu sair do supermercado antes de ser demolido. Próximo à estante de alimentos não perecíveis, Pedroso viu a história passar na sua frente. Desde a Novembrada até à ascensão e morte do cachorro-ícone Catatau, a fila do caixa-rápido continuava a mesma. O jovem não tinha opção: se desistisse, seria como desperdiçar todo o tempo que já passou esperando. Se xingasse a atendente do caixa, em vingança, ela iria contar moedas de um centavo com o colega do lado.
Tantos anos de observação renderam uma nova forma de gerenciar a fila que, assim como grandes pensadores do séc XX, não conseguiram colocar em prática. Segundo Góes, Pedroso sugeriu, isso lá em meados da década de 90, que a fila deveria ser circular. “Facilitaria a dinâmica, seriam menores e as pessoas conseguiriam conversar uma com as outras”, completa.
Houve também tempos de cólera e desespero. Em sua opinião, a pior semana foi quando um cliente pediu para trocar uma nota de 100 reais e, dias depois, trouxeram o troco errado. “A impressão era de que o tempo retrocedia”.