Bruno Volpato

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Bruno Volpato

Exímio guitarrista e vocalista, fundou nos anos 60 a banda Captain Dick & His Pubes, na qual experimentou o sucesso, a mescalina e a cozinha vegetariana. Nos anos 70, saiu em carreira solo com o álbum "Shaved", que fracassou, levando-o à depressão e ao suicídio. Reencarnou em 1982 e, para desespero dos biógrafos espíritas, segue uma enfadonha carreira jornalística não-remunerada.

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Domingo, 18 de setembro de 2016

Curso de Roteiro de Humor na AIC do Rio de Janeiro – Aula 1

jerry lewis

 

Começou no sábado, 17 de setembro, o Curso de Roteiro de Humor na Academia Internacional de Cinema, no Rio de Janeiro. As aulas continuam até o dia 26 de novembro, sempre aos sábados. Sou um dos alunos inscritos, o único de fora da capital fluminense – o que despertou a curiosidade de alguns colegas e dos professores.

No primeiro dia, os professores eram Fernando Aragão e Haroldo Mourão, roteiristas com passagens pelo Casseta & Planeta e atualmente na equipe do Zorra (clique em seus nomes para ver os currículos completos). A coordenadora do curso, a também roteirista Clara Meirelles, acompanhou os trabalhos e comandou uma rodada de apresentações.

Fui o terceiro a falar e, no espírito do curso, apresentei-me como “jornalista, portanto desempregado”. Como os dois colegas anteriores tinham passagens pela Globo, contei a minha, aos 19 anos: em uma palestra no Projac, pela faculdade de Administração, dormi por causa dos excessos na lendária boate Nuth e tomei um peteleco de um segurança. Ah, falei deste maravilhoso site no qual escrevo este relato, claro. Vai que alguém lê, né?

Minhas piadinhas auto-depreciativas arrancaram algumas risadas, assim como as histórias de vários outros colegas de turma – são cerca de 15, não contei. São pessoas com vários backgrounds, como Direito, Letras, Artes Cênicas e Administração, além de alguns que já são roteiristas e querem trabalhar o lado humorístico.

Todos revelaram a paixão pelo texto de humor, expressada também pelas suas influências – um pedido dos professores. A mais citada foi o Casseta & Planeta, inclusive por mim, com destaque também para a TV Pirata – que era escrita pelos cassetas – e apresentadores de talk shows americanos. Minha citação a BoJack Horseman, da Netflix, foi recebida com entusiasmo pelo Haroldo, o que me deixou satisfeito.

A aula em si

A parte das apresentações foi recheada por bate-papo, já apresentando algumas ideias e conceitos de texto de humor. A aula em si, cuja proposta era “Estrutura Narrativa da Comédia”, começou após esse primeiro momento. Fernando e Haroldo apontaram o foco como um fator fundamental para a produção do roteiro de humor. O tema, ou “vítima”, da piada deve estar sempre no centro do desenvolvimento do texto, evitando dispersões exageradas na construção da narrativa.

Eles citaram um quadro recente do Zorra, em que o Super-Homem tenta evitar um assalto a um banco, mas fica preso na porta detectora de metais. A piada era com a imposição dos bancos aos clientes da passagem pela famigerada porta-giratória, inserindo um elemento de anormalidade nesse drama do cotidiano: o Homem de Aço. O foco ficou nele e sua frustração em não poder impedir o crime, ou seja, não poderia haver, por exemplo, um sujeito zoando o herói com piadinhas na cena.

A estrutura básica da narrativa da comédia é dividida em set up e punch line – a primeira é a jogada e a segunda é o gol. Tivemos que fazer um exercício individual e um em grupo de criação, a partir de cenas propostas pelos professores. Mais uma vez, eram situações de rotina que precisavam de um final engraçado. No primeiro, um homem estava em uma balada e resolver passar uma cantada numa mulher, só que… e aí precisávamos complementar. Minha piada foi a seguinte:

– Oi! Seu pai é um pintor? – diz o rapaz.
– Ah, já sei, porque eu sou uma obra de arte, né? Que criativo!
– Não, é que tem um rolo de tinta preso no seu sapato.

Infelizmente, ou felizmente, não deu tempo de eu ler para turma. Em seguida, o exercício coletivo foi muito interessante. Fernando e Haroldo ressaltaram, várias vezes, que a produção de um roteiro de humor ganha muito se sai da individualidade. O parceiro é a primeira plateia, que vai ajudar a dizer se aquela sua ideia tem potencial. Notei isso no exercício, que realizei com três colegas. A cena era de um paciente numa consulta médica para pegar exames de rotina, o médico diz que está tudo bem só que… e aí tínhamos que bolar a piada.  A do meu grupo foi a seguinte:

Só que, na mesma hora, o paciente sofre um infarto fulminante e cai morto ali mesmo no consultório.
O médico olha a cena e desabafa:
– Pô, mais um paciente teimoso que não aceita o meu diagnóstico!

Arrancamos algumas risadas, assim como as piadas de outros grupos. O mais legal, no entanto, foi ver que, de fato, o trabalho em grupo adicionou novas direções que eu não teria tomado sozinho. Eu estava preso em um outro punch line, que de fato era mais fraco. Foi uma experiência interessante, notar como um brainstorming entre pessoas com estilos distintos – e que se conheceram naquele dia – gerou ideias divertidas.

Uma frase do Fernando durante a aula me chamou a atenção. Perguntei a ele se abandonavam muitas ideias durante o processo de criação para o Zorra. Ele respondeu que sim, muitas, e que o humor não seria viável como uma indústria normal tamanho é o desperdício de material durante o processo produtivo. O redator de humor tem que desapegar de uma piada que não se desenvolve, ainda mais no caso de um programa semanal. Ao mesmo tempo, uma piada precisa de muito trabalho para para ser completada. O segredo talvez esteja justamente no trabalho em grupo.

Se quiser saber mais sobre o curso, clique aqui.

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